Székesfehérvár: A cidade dos primeiros reis da Hungria


Muros invisíveis, pedaços de História à espreita. À medida que nos dirigimos até ao centro histórico da cidade, os olhos lutam com a discrepância da arquitectura em redor. Efeitos da Segunda Guerra Mundial, da industrialização e do regime Comunista/Socialista pós-guerra.


As ruas acolhedoras do centro, a arquitectura barroca e os edifícios antigos, são como um pedaço de tempo perdido onde é um prazer andar a pé. Fora dele, predomina a construção de blocos de prédios sem grande personalidade.


Alheias a tudo isto, numa das principais ruas do centro histórico, várias pessoas deliciam-se com um gelado enquanto esfregam o nariz da estátua de uma senhora idosa conhecida como Kati néni, ou tia Kati. Reza a lenda que tal acção é sinónimo de dar sorte.


Situada a cerca de 65km de Budapeste, Székesfehérvár é o berço dos primeiros reis da Hungria. O seu nome (szék significa trono) deriva da importância da cidade no período da Idade Média. Só para terem uma ideia, 37 reis e 39 rainhas foram coroados na impressionante Basílica da cidade (infelizmente destruída no séc. XVII durante a ocupação pelo Império Otomano). E era nesse local que existia também o trono, os arquivos e a Coroa Sagrada da Hungria.


A ocupação Otomana durou 145 anos e durante esse período a cidade foi quase toda destruída ao ponto de grande parte da população ter fugido para outros locais. A transformação foi tal, que durante os séculos XVI e XVII Székesfehérvár parecia uma cidade muçulmana.


Enquanto deambulávamos pelas ruas, dei por mim a reparar várias vezes nas fachadas de algumas lojas devido aos placares ou às pequenas esculturas que davam uma pista sobre o que se poderia encontrar lá dentro. O charme de muitas delas era inegável.



Por vezes era como se estivéssemos em algumas ruas de Sintra, embrenhados numa atmosfera medieval que pede recriações de época com roupas, feiras, lojas e combates a condizer. Os cafés, o chão em pedra, o espírito descontraído, esta parte histórica da cidade foi a principal razão da nossa visita e é fácil de perceber o porquê.


Como já é norma, algumas das estátuas espalhadas pela cidade apanham-nos de surpresa. O bobo pendurado entre prédios a fazer equilibrismo foi uma delas. Já o memorial dedicado a Matthias Corvinus, rei da Hungria e da Croácia no séc. XV, consegue ter um efeito hipnótico difícil de explicar com as suas várias esculturas e desenhos presentes no edifício adjacente.


O relógio, de cores vivas e que nos conta um pequeno resumo da história da Hungria em determinadas horas do dia, é outro exemplo das pequenas coisas que dão carisma a esta zona da cidade.


Székesfehérvár é a 9ª maior cidade da Hungria, mas explorar o centro histórico não requer muito tempo. Digamos que um dia é suficiente para uma abordagem mais superficial e turística. Começar a beber dos pormenores será outra conversa. Há estátuas para descobrir, edifícios com relevos e janelas encantadoras, pessoas para observar, mas a dinâmica é bastante diferente do que encontramos em Budapeste.


Actualmente, a população é predominantemente húngara e existe uma forte presença católica no que concerne a religião. Isso transparece de algumas maneiras consoante percorremos a cidade, em particular se formos estrangeiros. As cabeças ficam atentas aos nossos passos, as conversas mudam de tema, há até quem nos aborde com curiosidade apesar da dificuldade na hora de comunicarmos. As igrejas e catedrais são uma presença importante, mas tolerantes à nossa passagem.


Um pequeno olhar, um pequeno passeio descontraído com a nossa família adoptiva húngara e mais fotografias a que já perdi a conta, Székesfehérvár aguça-nos o apetite para descortinarmos mais um pouco da História da Hungria. É uma cidade que existe desde o século 5º a.C. (antes de Cristo) e que desde então já sofreu inúmeras mudanças causadas por impérios, invasões e guerras. Tal como o resto do país diga-se.